Carta aberta ao presidente da Embratur, Marcelo Freixo; ao presidente do Consórcio Nordeste e governador do Piauí, Rafael Fonteles; à secretária de Turismo de Alagoas e coordenadora da Câmara Temática de Turismo do Consórcio Nordeste, Bárbara Braga; à secretária de Economia Criativa do Ministério da Cultura, Cláudia Leitão; e ao presidente do Sebrae, Décio Lima.
Em 29 de setembro, foi lançada a “Marca Nordeste” na Feira Internacional de Turismo da América Latina (FIT), em Buenos Aires. O projeto propõe unificar a comunicação do turismo da região Nordeste para o mundo por meio de uma identidade visual que apresente toda a região e a posicione como um grande polo turístico. Trata-se de uma iniciativa essencial, capaz de impulsionar negócios e valorizar a diversidade cultural dos nove estados que formam o povo nordestino.
No entanto, nós, designers e profissionais do setor criativo da região, fomos surpreendidos pelo fato de que a marca — principal elemento da comunicação, agora responsável por representar oficialmente a diversidade da nossa cultura — tenha sido criada por um escritório de São Paulo, braço de uma agência global e não um investimento dentro da própria região.
O debate não é sobre uma empresa específica, mas sobre o modelo de decisão que historicamente exclui as empresas e profissionais nordestinos das narrativas que os representam.
Essa escolha contraria o discurso de valorização do território e ignora iniciativas públicas como o Programa Nordeste Criativo, criado pelo próprio Consórcio Nordeste, que tem como objetivo implementar uma política pública integrada de fortalecimento de talentos e iniciativas locais.
Segundo o Mapeamento Sebrae de Economia Criativa do Nordeste (2020), existem cerca de 515 negócios baseados no capital intelectual, cultural e na criatividade — entre estúdios de design, agências de publicidade e marketing, escritórios de arquitetura e interiores, designers de produto, editorial, games, moda, audiovisual e tecnologia. Somos reconhecidos nacional e internacionalmente pela qualidade de nossa produção e contribuímos de forma significativa para a descentralização da economia e da identidade cultural do país.
Diante disso, não reconhecemos a “Marca Nordeste” como representação legítima da nossa identidade e reafirmamos a urgência de que projetos dessa relevância sejam construídos com a participação direta de quem vive, trabalha e cria na região. Uma marca que se propõe a representar a pluralidade do Nordeste não pode ser construída a partir de uma visão externa, limitada a estereótipos e narrativas antiquadas.
Assim, reivindicamos, de forma objetiva:
01
Transparência do processo
contratual e criativo que orientou o desenvolvimento da marca;
02
Reabertura do processo de criação da Marca Nordeste,
de forma pública e participativa, com a garantia de participação efetiva dos profissionais e estúdios do Nordeste, em todas as etapas do projeto;
03
Inserção do design nas políticas de fomento à economia criativa
do Consórcio Nordeste, como o Programa Nordeste Criativo.;
Com isso, reafirmamos que o fortalecimento do design no Nordeste depende de políticas que garantam visibilidade, investimento, formação e a participação real dos profissionais locais, em um compromisso com o diálogo contínuo, participativo e transparente entre o poder público, o setor criativo e a sociedade.
Contamos com o apoio de todos os agentes do setor criativo do Nordeste para, juntos, impulsionar o design em nossa região.
Assinado,
COLETIVO NORDESTE DESIGN
Coletivo independente de designers e profissionais criativos do Nordeste.